sábado, 11 de junho de 2011

«As crianças nadam muito tempo antes de chorar»




Texto-montagem fotográfica:Cândida Barros

  Perfil
Lúcio Matias de Sousa Mendes nasceu no concelho do Tarrafal, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 21 de Outubro de 1964. Aos 12 anos perdera o pai, e 3 anos mais tarde morreria a mãe deixando 8 crianças órfãs. Muito cedo foi amparado pelas FARP – (Forças Armadas Revolucionária do Povo), onde passou toda a sua infância.
Foi entre o Campo de Concentração do Tarrafal e Quartel Jaime Mota na Praia, que ele fez os seus estudos secundários sob a tutela das autoridades militares.
Em 1984, Recebe bolsa do governo cubano e estuda Direito em Havana. Seis anos depois volta ao País Advogado de profissão, cria o seu escritório de Advocacia no Plateau na Cidade da Praia.
Mário Lúcio Sousa é o nome artístico, pois foi a arte que lhe deu um outro rumo à sua vida. Em 1992 cria o grupo Simentera, que vai beber um pouco as raízes continental africana, que segundo ele é o « regresso decisivo da música cabo-verdiana às suas raízes acústicas»
1992, é nomeado conselheiro cultural do Ministro da Cultura. De 1996 a 2001, é deputado no Parlamento Cabo-Verdiano.
Foi conselheiro do Comissário responsável pela Expo 92 em Sevilha, e, mais tarde, para a Expo 98 em Lisboa.
Mário Lúcio Sousa é multi-instrumentista, e arranjador de vários álbuns de artistas cabo-verdianos. Foi fundador e director da Associação Cultural Quintal da Música na Cidade da Praia. Num dos espectáculos na Assembleia Nacional, demonstra a grande utilidade do barro. Utilizou como instrumento de música potes de barro num dos seus trabalhos. Este é um excerto da sua obra:

(...)O prenhe barro que sustinha o mar
abriu-se como uma boca ou uma flor
e o sopro de um deus imaginário
- que já existia antes de Deus –
fez abrir um pedaço do Mundo
cuja alma já não cabia no corpo…
e nasceram as ilhas
que nadavam e nadavam.
As ilhas nascem nadando como as crianças nascem chorando,
mas no gérmen tudo é diferente:
as crianças nadam muito tempo antes de chorar
e as ilhas choram muito tempo antes de nadar
os dois prantos sob o signo de um pranto mestiço
de água e fogo.
(a) LUZ
LAVA e
(a) DOR.
Assim será. Assim foi, creio eu:
Dez embriões num ventre
dez vozes num parto(...)
Tem grandes habilidades artísticas: além de uma voz colossal, toca vários instrumentos acústicos, como a gaita de boca, ferrinho, gaita entre outros.
Paralelamente à música já com três CDS gravados, com colaborações de Gilberto Gil um dos músicos conceituados Brasileiro e de Luís Represas, que também tem nome no mercado Português, Mário Lúcio é conhecido como poeta:
(...)Em Cabo Verde a minha poesia e a minha prosa marcaram a posição
da minha geração quanto à sua postura estética. O Nascimento de
Um Mundo é citado como referência. Igualmente as minhas novelas
vêm introduzir marcadamente a influência latino-americana na prosa
Cabo-verdiana. E no Teatro, significam o nascimento de uma
dramaturgia nacional. Essas são opiniões da crítica, publicada em
jornais, revistas e antologias. No Brasil, fora dos circuitos
Universitários, as minhas obras literárias são desconhecidos.(...)
(SOUSA, 2009. Entrevista Revista Icarahy)

A grande apetência pela arte literária, valeu-lhe 6 obras editadas: “Nascimento de um Mundo”(poesia, 1990); Sob os Signos da Luz” (Poesia, 1992), “ Para Nunca Mais Falarmos de Amor” (Poesia, 1999), “Os trinta Dias do Homeme mais Pobre do Mundo” Ficção, 2000)- prémio do Fundo Bibliográfico da Lingua Portuguesa, 1ª edição) “Adão e As Sete Pretas de Fuligem” (teatro, 2001), “Vidas Paralelas” (Romance, 2004) “Salon” (Teatro,2004).
A arte nasce com o Homem, cabe a ele saber explorá-la. Mário Lúcio de Sousa um menino Tarrafalense, que soube aproveitar cada minuto que a vida madrasta lhe proporcionou para que hoje, se tornasse num Grande Homem de Cultura Cabo-Verdiana.
Em 1992, é nomeado conselheiro cultural junto do Ministro da Cultura. De 1996 a 2001, é deputado no Parlamento Cabo-Verdiano.
Actualmente é Ministro da Cultura, e, de uma forma inédita mostrou que também no Parlamento Cabo-Verdiano a música é um elo da uniáo.

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