Cabo Verde, um pais de origem vulcânica situa-se a 640 km de Dakar Senegal. Constituida por dez ilhas atlânticas, e devido a sismos cíclicos, o risco de um tsunami preocupa alguns Cabo- verdianos. Por isso Nós identidade resolveu ouvir Mota Gomes doutorado em hidrogeologia, e sua equipa Bila Santos e Celestino Afonso ambos geólogos, que por iniciativa própria criaram um gabinete de pesquisas na prainha na cidade da Praia.
A pedido da Protecção Civil Cabo-verdiana, encontram-se actualmente a trabalhar num projecto sobre os riscos vulcânicos, sismicos e hídricos. O trio já percorreu quase todas as Ilhas e dizem: «conhecemos o vulcão do Fogo como a palma das nosssas mãos»Nós Identidade: Qual é o risco de um Tsunami em Cabo Verde?
Bila Santos : Na verdade ainda não conseguimos identificar um risco a olho nu, o que se sabe é que o risco de tsunami está associado ao sismo localizado no mar, e isso pode ocorrer devido à energia libertada. Em Cabo Verde, normalmente os abalos sísmicos ocorrem na sua maioria na Ilha Brava, por causa da movimentação do magma que não está muito associado à tectónica de placas, sendo assim, não temos em termos científicos uma grande probabilidade de tsunami comparativamente às outras regiões.
NI: O que significa tectónicas de placas
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Fonte:http://www.netxplica.com/manual.virtual/
BS : É um termo científico que tem a ver com as placas existentes no planeta. Como sabemos o planeta é um puzzle, constituído por placas. Existem grandes placas como a Americana a Eurasiática, a Africana, a da Antárctida mas também existem muitas outras placas de enormes dimensões, elas afastam-se ou deslizam entre si é este afastamento, colisão ou deslizamento que provocam os sismos.
NI: Não corremos o risco idêntico ao do Japão?
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Fonte: euronews.net |
BS: Não, porque Cabo Verde fica numa zona intra-placa e isso dá-nos o benefício de não corrermos este risco. O Japão encontra-se no limite de três placas: a eurosiática, americana e a de filipinas. NI: A pouca cultura ambiental em Cabo Verde pode contribuir para uma catástrofe no país?
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Celestino Afonso - Geólogo |
Celestino Afonso: Os ricos que estamos a vivenciar neste momento de uma forma geral, são provenientes das acções humanas, através de poluições, que provocam o aumento da temperatura mundial, que de uma forma directa ou indirectamente influenciam nas mudanças climáticas. Posso dizer que um pouco se acontece por todo mundo em termos de erupções vulcânicas, tsunamis e de chuvas intensas.
NI: Como um país Vulcânico, existe alguma previsão sobre erupções?
BS: Em termos de risco vulcânico é óbvio. Temos um vulcão activo em Cabo Verde, o da Ilha do Fogo, a sua última erupção aconteceu em 1995, seguida de perto pelo Doutor Mota Gomes, que, possui toda documentação. Já se fez um estudo e estamos por dentro dos eventuais riscos que possam ocorrer.
NI: Têm apoio do Governo para levar o projecto adiante?
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Mota Gomes-Doutorado em Hidrologia |
Mota Gomes: Fazemos isso por nossa conta e risco.
Reunimos todas as quintas feiras, graças à boa vontade que temos. Mas de ajuda praticamente nada.
NI: Tentaram alguma vez?
MG: Até demais. Já nos dá vergonha de bater às portas para dizer que a gente precisa deste trabalho! Sinceramente até este momento muito pouco ou quase nada recebemos de apoio. Ultimamente temos estado a tratrabalhar nos recursos hídricos, vulcanismos e sismologia e a população do pais já começa a perguntar coisas, é preciso trabalhar, e temos pessoas capazes de fazer isso. Nós vamos fazendo a nossa parte, mesmo sem dinheiro fazemos o possível para prevenção.
NI: Quais os riscos mais evidentes em Cabo Verde?
CA: È bom salientar os riscos mais evidentes em Cabo Verde: temos riscos sísmicos, vulcânicos, enxurradas e inundações decorrentes das chuvas. Não temos grandes chuvas mas quando acontecem devido à nossa orografia muita água vai para o mar.
Outra fragilidade são as construções não urbanizadas que dificultam e muito. Podemos falar em erupções vulcânicas, mas, não existem histórias de tsunamis que tem atingido Cabo Verde, mas não estamos imunes disso vir acontecer dado a inúmeras situações que têm acontecido ao longo do tempo. Mas como disse o meu colega estamos numa zona privilegiada onde o risco é mínimo. Mas sabemos que nada é previsível. Da Natureza pode-se esperar tudo.
NI: Outra preocupação é também a invasão do mar com apanha de areias. Não põe em causa a agricultura em Cabo Verde?
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«o apanhar dessas areias no desembocadura dos vales, ocasione a que não se tenha uma defesa contra a entrada de agua do mar para o interior da terra, que cientificamete chamamos de contaminação salina » |
MG: Isso tem criado um mal maior e bastante grave no pais, não se tem feito seguimento das apanhas das areias , e água doce está a ser contaminada pela entrada de água do mar, denomidada de intrusão salina. Temos o exemplo da Ilha de Santiago na localidade de Ribeira Seca que a água do mar entrou já 4 quilómetros por terra adentro porque não há um controlo rigoroso: o outro caso é a ilha do Maio onde várias zonas já se encontram contaminadas por causa disso.Essas duas ilhas principalmente as de Santiago e Maio servem de exemplo que se está a fazer extracção de areia que não se devia fazer por ser contra ambiente. Se não houver um controlo rigoroso dá broncas.
NI: Que recursos ambientais existem no nosso País?
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Fonte:thiagoazeredogeomorfologiageral.blogspot.com |
BS: Relativamente ao ambiente Cabo Verde tem muitos recursos, o que falta é aproveitá-los de uma forma sustentada. Em Santiago temos um património geológico, existem cerca de 50 cones de piroclásticos ( montes de jorras), não há uma supervisão na exploração, os cones ficam esburacados e com perigos para quem faz essas extracções.Temos que apanhar areia de uma forma controlada que não ponha em causa o ambiente, com a intrusão salina não temos agricultura. Em S. Vicente a apanha da areia na praia de lazareto também não tem sido vigiada o que tem causado mortes sistemáticas. NI: A quem cabe esse controlo?
MG: Cabe ao Instituto Nacional de recursos Hídricos que neste momento é responsável pelas águas subterrâneas, residual tipo de águas, o resto cabe ao Ministério do ambiente..
Texto-Fotografia: Cândida Barros